O império das corporações de tecnologia - uma análise sobre as relações de poder

O capitalismo, impulsionado pelas grandes corporações de tecnologia, concentra poder e riqueza em um número reduzido de empresas, como Apple e Microsoft. Com a ascensão da inteligência artificial, a desigualdade tende a aumentar, exacerbando a exploração e a marginalização das classes trabalhadoras.

O império das corporações de tecnologia - uma análise sobre as relações de poder

As relações econômicas e sociais são estruturadas em torno do modo de produção, onde a classe dominante — detentora dos meios de produção — exerce poder sobre as classes trabalhadoras. No capitalismo, este conflito de classes é o motor da história. A classe capitalista detém o poder (capital) necessário para controlar a produção, a distribuição e a própria organização do trabalho. Já a classe trabalhadora, depende da venda de sua força de trabalho para sobreviver. Não existem alternativas ou mecanismos que possibilitem a alteração dessa relação de dominação. Pelo contrário, os mecanismos capitalistas tendem a reforçar as relações desiguais de poder.

O capitalismo é essencialmente uma relação de exploração, onde o valor gerado pelo trabalho humano é apropriado por aqueles que detêm os meios de produção, sendo este processo frequentemente mascarado pela ideologia dominante, que defende o mito de uma sociedade meritocrática e democrática. A imensa massa de seres humanos trabalhadores se vê preso a uma estrutura de poder onde suas condições de vida são determinadas pela lógica do lucro e da acumulação capitalista.

A democracia representativa burguesa, uma das mais celebradas conquistas das sociedades capitalistas modernas, é uma das formas mais sofisticadas de perpetuar o domínio da classe capitalista. Embora tenha sido apresentada como um sistema que visa a justiça e a equidade, ela funciona, na prática, como um mecanismo de legitimação do poder das elites econômicas.

As eleições e os processos democráticos não são, em sua essência, formas de garantir a expressão da vontade popular, mas sim instrumentos através dos quais as classes dominantes asseguram que seus interesses sejam mantidos. Mesmo nos regimes democráticos ditos mais avançados, as decisões econômicas são, em sua maioria, determinadas por grandes corporações e seus lobbies, que influenciam políticas públicas, legislações e regulações de mercado. O sistema capitalista democrático não tem o poder de questionar a essência das relações de produção; ao contrário, ele as perpetua.

Por isso, a democracia representativa burguesa, em última análise, tem mais semelhanças com um teatro político, no qual as classes trabalhadoras escolhem, periodicamente, seus opressores, sem jamais contestar a estrutura fundamental de poder que as submete.

O cenário político-econômico, especialmente após a globalização que se intensificou nas últimas décadas, tornou-se ainda mais complexo e, por vezes, impenetrável para a maioria da população. As relações de poder, os fluxos de capital e as dinâmicas de classe estão dispersos e camuflados em uma rede de empresas transnacionais, tratados internacionais, políticas neoliberais e uma economia financeira especulativa. Essa complexidade faz com que as relações de dominação fiquem muitas vezes ocultas, e a luta de classes seja, em certa medida, mascarada.

O capitalismo globalizado fragmenta ainda mais a classe trabalhadora. Trabalhadores em diferentes partes do mundo, sob diferentes condições, são explorados de formas diversas, mas sempre com o mesmo objetivo: garantir a continuidade do processo de acumulação capitalista. Em um cenário onde a produção é descentralizada e a maioria das riquezas é concentrada nas mãos de uma pequena elite global, a percepção de que a classe trabalhadora é uma classe internacional, com interesses comuns, fica diluída.

No entanto, uma das formas de começar a elucidar essa dominação global é olhar para os agentes que controlam o capital: as grandes corporações transnacionais. Elas são as verdadeiras “donas” do poder no capitalismo global. São essas corporações que ditam as regras do jogo, não apenas no mercado, mas também nas esferas política e social. Ao analisar essas corporações, especialmente aquelas com os maiores valores de mercado, podemos observar mais claramente onde reside o poder na sociedade contemporânea.

As corporações são, na atualidade, a maior representação do poder do capital no sistema capitalista. São elas que concentram uma fatia significativa da produção, da riqueza e, consequentemente, do poder social. A simples comparação entre as empresas mais valiosas do mundo e a sociedade em geral revela a distância abissal entre as elites capitalistas e a classe trabalhadora.

Em 2023, a lista das 10 maiores empresas do mundo em valor de mercado foi dominada por gigantes da tecnologia como Apple, Microsoft, Google (Alphabet), Facebook (Meta), Amazon, e a mais recente adição ao clube dos trilhões: NVIDIA. Essas empresas representam, em sua maioria, a convergência entre o software e o hardware — dois pilares que, juntos, formam a espinha dorsal da revolução tecnológica que marca o século XXI.

A Apple, por exemplo, se tornou a primeira empresa a alcançar a marca de 1 trilhão de dólares de valor de mercado, em 2024, refletindo não apenas sua capacidade técnica, mas também sua habilidade em consolidar um poder econômico global incomparável. O valor de mercado dessas empresas supera qualquer outra corporação da história, refletindo o poder que elas detêm não apenas sobre os mercados financeiros, mas também sobre a vida cotidiana das pessoas, através do controle da informação, da comunicação e das plataformas tecnológicas.

A evolução do valor de mercado das maiores empresas do mundo de 1998 até 2023

O final do século XX e o início do século XXI são, sem dúvida, marcados pela ascensão das empresas de tecnologia, que passaram a ocupar uma posição dominante no mercado global. Empresas como Microsoft, Google, Meta e Apple não só conquistaram a liderança econômica, mas também passaram a ser as responsáveis por definir a agenda política e social de todo o planeta. A recente história do X (Twitter) mostra o quão isso é latente na sociedade atual.

Essas empresas não são apenas negócios que vendem produtos e serviços; elas definem o que significa “trabalho” e “consumo” no século XXI. Elas estão por trás da digitalização das atividades econômicas, do controle sobre os dados pessoais e da construção das infraestruturas que sustentam a economia globalizada. O poder que essas empresas detêm vai muito além do valor monetário que elas acumulam — elas são agentes ativos na formação da sociedade, da cultura e da política.

Com o advento da inteligência artificial e das tecnologias emergentes, o poder dessas empresas tem se expandido ainda mais, e a concentração de riqueza e poder tende a ser ainda maior nos próximos anos. A IA, por exemplo, promete otimizar ainda mais os processos de produção e exploração, reduzindo a necessidade de trabalho humano em diversas áreas ao mesmo tempo em que intensifica a concentração de lucros nas mãos de um pequeno número de corporações que dominam essas tecnologias.

O futuro parece cada vez mais sombrio para a maioria da população mundial. À medida que o poder das corporações de tecnologia se expande, e com ele a concentração de capital e a automação do trabalho, as condições de vida para as classes trabalhadoras tendem a se deteriorar profundamente. O trabalho, já precarizado em muitas partes do mundo, se tornará obsoleto em várias áreas devido à automação e à inteligência artificial. O desemprego e a subempregabilidade serão problemas ainda maiores.

Além disso, a vigilância e o controle social, que já são praticados por essas grandes corporações, tendem a se intensificar, tornando mais difícil a organização e a resistência das classes trabalhadoras. As grandes empresas de tecnologia não apenas dominam o mercado, mas também o espaço público, a política e a própria definição do que é considerado normal ou aceitável em termos de comportamento social e político.

A ideia de um futuro mais justo e igualitário parece cada vez mais distante. O capitalismo, especialmente em sua forma mais avançada, não oferece alternativas viáveis para a maioria da população. A promessa de uma sociedade mais democrática e livre, que muitos acreditavam ser possível com as reformas do século XX, esbarra na dura realidade de um sistema econômico que se torna cada vez mais imune às demandas populares.

Dessa forma, o caminho para um futuro mais justo passa, inevitavelmente, pela transformação radical das estruturas econômicas e sociais. A luta contra o capital, que Marx previu, continua sendo a única alternativa para aqueles que desejam um mundo livre da exploração e da opressão. Mas, em um cenário onde as corporações de tecnologia e os interesses financeiros globais dominam de forma esmagadora, a possibilidade de uma verdadeira mudança social parece cada vez mais remota. O capitalismo tecnológico, com sua obsessão pela maximização dos lucros, não oferecerá soluções para as necessidades da humanidade — apenas aprofundará a desigualdade e a alienação.